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  • Foto do escritorAgência ZeroUm

A volta para casa

Paraguai: a pandemia que surpreendeu o mundo e os brasileiros longe de casa.

Não eram as férias dos sonhos. Aparentemente era apenas mais uma semana normal na vida de muitos brasileiros que moram, estudam e trabalham no Paraguai. Até que no dia 10 de março a dimensão do combate à pandemia da COVID-19 tomou proporções surpreendentes. Aulas foram suspensas e, na semana seguinte, pessoas proibidas de circular nas ruas no período entre 20h e 4h sob risco de multa e detenção. Saídas somente em casos de extrema necessidade e trabalhadores de serviços essenciais.


Aliado aos acontecimentos, a condição de instabilidade acentuava-se com o forte risco de desabastecimento, associado a preços inflacionados e câmbio baixo. Situações extremas ficaram mais evidentes. A parte mais humilde da população passou a ter necessidades básicas não mais atendidas. Informações oficiais sobre as condições do país frente ao combate à pandemia eram insuficientes e careciam de transparência. E com o avançar da realidade durante a quarentena, todo aquele sonho de morar, trabalhar e estudar fora do país - ao menos naquele momento - estava ruindo.


Voltar ao Brasil, naquele momento, era um processo que poderia demorar cerca de 10 dias para a autorização. A notícia de que a fronteira poderia fechar pegou muitos de surpresa. Os governos do Brasil e do Paraguai negociaram permissão para que os cidadãos brasileiros pudessem deixar o país. O grau de apreensão foi aumentando. Com isso, era comum que todos os dias, do outro lado da linha, familiares extremamente preocupados, alguns desesperançosos, estivessem em busca de informação.


Decididos a enfrentar a realidade e com algumas dificuldades, um grupo de brasileiros consegue deixar Assunção na madrugada de 21 de março. Eram 10 pessoas oriundas dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais. Eles alugaram um van e partiram para a primeira etapa com destino à Cidade do Leste/PAR. Passaram pela imigração, porém, foi necessário cruzar à pé a Ponte da Amizade. Naquele estágio, qualquer veículo estava impedido de trafegar. Ao alcançar o lado brasileiro, em Foz do Iguaçu/PR, foram recebidos por uma equipe de saúde que os entrevistou, verificando condições de saúde de todos. Chegar ao Brasil era uma realidade conquistada. Seria necessário ainda chegar em casa.


Assim, o grupo se dividiu. Alguns possuíam voos programados para aquele sábado, 21. Os demais se alojaram em um hotel próximo à rodoviária internacional. Único aberto em uma cidade que parecia não ter mais população tamanho o isolamento àquela altura. O voo que traria os demais estava agendado para às 5h da manhã de domingo, 22.


Fernanda Andrade, 40, Estudante de Medicina, relata o temor durante a espera:


"compramos comida, dormimos e ficamos esperando o horário, torcendo pra que nenhum voo fosse cancelado".

A complexidade do cenário que se apresentava estava retratado naqueles voos que trouxeram o restante do grupo. Havia apenas 10 pessoas a bordo no voo para o Rio de Janeiro, situação semelhante nas outras aeronaves. Com as ruas vazias e o pouco trânsito, em 30 minutos ela estava em casa. Quarentenada, mas aliviada.


A dimensão do surto que começou, aparentemente, tímido e foi negligenciado por muitos governos adquiriu proporções dignas dos relatos já conhecidos em livros de história. Hoje, o tempo avança na medida oposta em que os resultados se concretizam. O número de infectados e de óbitos aumenta. E a pergunta que mais nos fazemos é 'até quando?'.


A quarentena é apenas uma forma de não colapsar o sistema de saúde. Mas à reboque da necessidade e das circunstâncias outros tantos colapsos estão acontecendo. O mundo que existirá após 2020 será completamente em realidade e em conceito. Um novo entendimento de 'normal' - que ainda é diferente do que estamos vivendo na quarentena - vai surgir. Uma nova forma de nos relacionarmos vai amadurecer. Que saibamos viver bem as etapas desta transição.




Bruno Velasco

Agência ZeroUm




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