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Projetos 'endeusadores'

O ano de 2019 reescreveu a história do futebol brasileiro com boas doses de ousadia. Mas ainda faltam projetos que resistam inícios de campanha ruins e trabalhos duradouros.

Jorge Jesus. Foto de Alexandre Brum - Agência Enquadrar.
Jorge Jesus. Foto: Alexandre Brum - Agência Enquadrar.

De fato, o Flamengo conquistou quase tudo o que disputou desde a chegada do português . O time da Gávea acumulou títulos, reescreveu a mitologia do futebol brasileiro. Agora, para além do time de 1981, o olimpo rubro-negro tem o de 2019. Um time que desconhecia adversários pois reconhecia em si suas qualidades. Méritos divididos, mas um nome com destaque no prestígio: Jorge Jesus.


O cenário na chegada do treinador mostrava um time campeão carioca com pragmatismo. Não encantava. Sem o brilho desejado por muitos em razão da qualidade do elenco rubro-negro. E apesar da surpresa em virtude de sua contratação - um nome desconhecido no mercado nacional - seu estilo e sua agressividade fizeram o Flamengo pulsar como nunca antes. O mister se mostrou mais que um regente, talvez a peça que faltava na orquestra.


O time jogou por música inúmeras vezes, perdeu poucas. Uma goleada para o Santos em 2019 quando o time já era campeão antecipado não abalou a confiança e o time levantou ainda a Taça da Libertadores pela segunda vez. No Mundial, um duro golpe na final tão sonhada contra o Liverpool. Mas os sonhos vinham se renovando para mais uma temporada no imaginário do torcedor, talvez da diretoria em virtude da renovação recente do treinador.


O ano de 2020 trouxe ainda mais 2 'canecos': a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca, mas com um fim da festa com sabor amargo, uma espécie de ressaca antecipada. O treinador que aceitou o desafio e se fez conhecer no Brasil estaria de saída. Os últimos jogos davam um tom diferente às suas participações. O inquieto Jorge Jesus parecia distante. E distante ficou.

Flamengo. Foto de Marcelo Gonçalves - Agência Enquadrar.
Flamengo. Foto: Marcelo Gonçalves - Agência Enquadrar.

O Flamengo monitora substitutos. Apesar do elenco qualificado e do projeto diferenciado, tem pela frente novos desafios. O 'time imbatível' sofre um revés inimaginável. Seria capaz um novo treinador de manter a 'liga' criada pela mister?


JJ provou do que é capaz. E deixa uma lacuna que não parece ser capaz de ser preenchida por outro técnico brasileiro. Não pela falta de qualidade, mas pela falta da personalidade, de uma personagem.


O futebol carioca carece destes profissionais caricatos, curiosos e vitoriosos. Mas de certo, há um bom tempo, a imprensa também se confunde com a torcida ao noticiar fatos. Existe muita opinião envelopada em formato de informação. Com isso, há muitos 'deuses do gramado' sendo construídos em detrimento da realidade de um futebol que é profissional.


Para muitos, o mais difícil seria a manutenção do elenco. Com a exceção de Pablo Marí que se transferiu para o Arsenal, o time se manteve e ganhou reforços. A troca, justamente, da comissão técnica não era pensada neste momento. Aliás, a troca de treinadores é um tema recorrente nas 'mesas redondas'. E geralmente quando um treinador opta por sair, o debate fica ainda mais acalorado.


O tempo do projeto para os treinadores no Brasil é culturalmente diferente do que ocorre na Europa. A troca excessiva de treinadores tão combatida por boa parte deles é cultivada na mesma proporção. É certo e legítimo que quando novas oportunidades surjam, que as portas estejam abertas e os negócios ocorram. Em um Brasil em que projetos não duram sequer 6 meses, trocas por demissão ou oportunidades vão continuar a existir. E não devem ser questionadas.


Entretanto, para o bem e amadurecimento da profissionalização do futebol, dirigentes e profissionais precisam pensar diferente. Não se pode em um ambiente profissional dispensar a expectativa na realização de um projeto somente em 1 ou 2 pessoas, sejam elas atletas ou comissão técnica. O 'endeusamento' no esporte vende camisas, aumenta a adesão a projeto de sócios torcedores, traz títulos em algumas ocasiões mas precisa estar ligado a um bem maior que é a produção do espetáculo chamado futebol.




Bruno Velasco

Agência ZeroUm


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