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Rádio e Futebol como projetos de realidade

Atualizado: 12 de jul. de 2020

Série Maracanã 70 vai relembrar a história do estádio Jornalista Mário Filho e relembrar grandes momentos, passando por profissionais de comunicação, árbitros e atletas.

Rádio Antigo. Foto: Wix Media
Rádio Antigo. Foto: Wix Media

No Primeiro Capítulo desta Série abordamos como surgiu a ideia e as implicações inerentes à construção do estádio. Neste segundo momento, vamos abordar como a Comunicação influenciou em todo o processo. Para isso, voltaremos na linha tempo até a Era Vargas, sucessor de Dutra.


Entretanto, antes de inciarmos é importante ressaltarmos como era o período: a TV ainda era muito recente, de baixa penetração nos lares. O rádio era a 'vedete' do momento e concebido como meio de propagação da cultura. Com longo alcance, e em quase todos os lares, propulsiona aquilo que informa unindo os pontos mais extremos do país. Era um momento em que a informação era permeada por uma Propaganda Institucional de um Brasil pujante.


Em virtude de novos aportes tecnológicos, hoje, talvez, o rádio não seja menos presente (disponível também em smartphone), mas exerce influência diferente que há 100 anos. Em sua característica, por ser uma atividade que cabe como pano de fundo, é comum que se ouça rádio enquanto se executa uma outra tarefa. Trabalhando, dirigindo ou mesmo nos afazeres domésticos para escutar o rádio não é necessária uma atenção total ao que é noticiado.


Alda Maria – radialista, com passagens pela Rádio Globo, MEC e Fluminense, ressalta que é comum uma atenção em Stand by até que algo te solicite uma atenção dedicada:


“É justamente a relevância da mensagem que desperta o interesse do ouvinte e em um país com dimensões continentais, o rádio trabalhou como papel integrador da realidade e sentimento de nação do Brasil”.

Um importante papel do rádio quanto ao que noticia está associado como as pessoas recebem e internalizam as notícias. Cada um, segundo aquilo lhe é próprio, entende ou mesmo sequer questiona a mensagem que recebe. Símbolos e ideias são construídas neste espaço que existe entre a inexistência da imagem e os valores que se assumem individualmente. Cabe frisar que a massificação de uma mensagem orientada, com objetivo de convencimento, ganha vulto mesmo que a realidade possa ser diferente daquilo que se diz ou se ouve.


No que diz respeito ao governo, é importante ressaltar que em 1939 é criado o DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda responsável. Historicamente, um instrumento de controle social e de tentativa - do Estado Novo - de construir um ideal de pátria e nação de forma autoritária. Neste contexto, fica claro observar que o rádio foi utilizado como ferramenta estratégica e como aliado político. Sem coincidências, é neste momento que surge um programa existente até hoje: a Voz do Brasil que inicialmente era chamado de a ‘Hora do Brasil’.


O rádio, então, deixava de ser destinado a produções voltadas para as elites regionais e transformou-se em meio de comunicação de massa, voltado à diversão e ao entretenimento do povo brasileiro. E com este novo papel bem definido, uma outra personagem contribui para o alcance e a construção idealizada da mensagem de modo pessoal. Este é o cronista. A crônica pode ser compreendida como uma espécie de lugar em que as representações ocorre. Seja por parte de quem as lê, seja por parte de quem as ouve. A aproximação do texto jornalístico com a Literatura traz um rico espaço de significados. Estes podem ser trabalhados no imaginário coletivo ou individual.


Carlos Heitor Cony (1926-2018), um jornalista e escritor brasileiro membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), ressaltou em seu texto "A crônica como gênero e como antijornalismo" publicado pelo jornal Folha de São Paulo que:


"Antes de ser um leitor, o consumidor de jornal é um ser humano tornado carente pela solidão, pelo egoísmo (próprio e alheio), pelo nenhum sentido da sociedade como um todo. Quando um cara tem coragem de gritar que está sofrendo, fatalmente encontra alguém que o compreende e, algumas vezes, o ame. Isso não dá apenas samba. Dá crônica também".

E é justamente neste ambiente de apropriações repleto de imagens criadas e muitas vezes induzidas que surge um outro personagem cujo nome se tornaria sinônimo de futebol: Mário Filho. Jornalista, irmão de Nelson Rodrigues, era capaz - com sua construção textual e seu vocabulário - de trazer o público para uma nova dimensão, muito perto daquilo que narrava. Surgia, assim, uma crônica esportiva enriquecida que deixava o espaço dedicado ao esporte e ganhava destaque nos jornais. De um lado, temos o rádio como institucionalizador da verdade, do outro agora temos o futebol das paixões.


No próximo capítulo, abordaremos a inauguração do estádio.




Bruno Velasco

Jornalista, Fotógrafo e Documentarista para Agência ZeroUm.





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